Bom, não posto nada há muito tempo, mas já que temos uma nova contribuidora (Moon) vou postar hoje 2 poemas. Espero que a chegada da nova escritora anime mais as coisas por aqui. Sinto falta do humor ácido do Sr. Márcio, do amor terno da Arya e das loucuras eventuais do nosso caro Ulisses.
enfim, postem. vou postar
Desejo o beijo, o ego, o desejo
Assim me vejo, restos de espera
É brando e cego, resta-me o ensejo
Beijo o desejo, e nós, os nós dos dedos
Eu apodreço de não realizá-los
Sem risco desconstruo o que sou
De sonhos cresço, de não tê-los calo
Não deixo que se acenda o frágil fogo
Arisco ou fraco, não me arrisco à causa
Sobra o desejo, a emoção e a pausa
De quando eu vejo meu amor assim
E o tempo engole a dura derrocada
Mas não me lanço no sem-fim abismo
E meu amor também não vai por mim
E quando o seu ar mui perto sinto
Controlo o peito a externar minha ânsia
Pois eu não sou mais ser na burra infância
Nem eu sou inseto que obedece o instinto
Não vou voar para o sol e encontrar lâmpada
E nem morrer na luz da minha ignorância
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Anoxia
Desfaço minha mão no meu corpo
O meu leque de cartas marcadas
Pergunto se não és parte do caminho,
Mas não, pois já passas de toda estrada
E a seta óptica a se me observar diante do espelho
Meus calos, meus olhos, meus lábios vermelhos
Por dentro vermelhos, irrigados por veias e fluídos
Do não-meu sangue. Nosso sangue.
Enrubesço eu próprio. E réstias de luz forte a me queimar
E tua silhueta se forma por trás dos meus olhos
Da cor negra
Negra que é a cor do medo que se forma em mim com tua sombra
E falta melhor definição para medo. Que tu
E melhor definição para ti. É medo.
Desminto meus pesadelos e pecados
Eu finco minhas mentiras no meu corpo, em castigo,
Facas cujas pontas eu sinto, dentro de nós
E a dúvida afiada está comigo.
A incógnita desajeitada do desejo
Sem beijo, sem toque.
O medo do medo da morte.
E a morte é tua falta, é não ter ar teu
Teus pulmões, não os vejo, mas o sinto,
Em um ritmo quente, rápido, nervoso
Não mais que os meus pulmões
Que me engasgam e não consigo falar
Porque meus dentes trincam, minha boca sela, minhas narinas pifam
O meu corpo pára. Não é cedo.
Desato os nós que fazem os meus músculos rijos
Os nós da minha garganta e do meu peito
Eu choro um choro interno e castrado
Eu rio um riso frouxo e sem jeito
Não tem jeito. Meu corpo treme só com tua presença
Meu corpo teme não ser bom pra ti
Minha mente se ausenta, se implode
É a morte, não é cedo, é o medo em si
Meus dedos já não se bastam sozinhos
Minha pele já não busca teus carinhos
Mas busca tua palavra e tua voz
Pois se até a pele que não tem ouvido
Sua boca faz sentir os calafrios
Os mesmos calafrios do meu corpo
E fervo em uma febre desalmada
Contorço o meu corpo todo em vão
Não expulso uma palavra da minha boca,
Não encontro os meus pés tocando o chão
Prolixo, devaneio mil palavras
Extensos versos de cem poesias
Mas não há poesia que se baste
E nem há poeta que se cale
Diante da palavra que não vem
Que todas as bocas em uníssono cantam
Que é o ídolo mor de cada autor
E todas as mulheres dizem amém
Pergunto se não és parte do caminho,
Mas não, pois já é mais que meu amor.