Cora Ronái
Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia as teve), aliando-seao que há de mais podre no estado, gastando rios de dinheiro, jogando sujo,usando descaradamente a máquina estadual, federal e universal, beneficiando-seaté de um feriado mal intencionado, enfim, com tudo isso, Eduardo Paes sóconseguiu ganhar de Gabeira por 50 mil míseros votos.
Como vitória política, já é um resultado extremamente questionável; mas doponto de vista pessoal, é uma derrota acachapante.
Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso ficou com umaquadrilha de aliados que não deixa nada a dever àquela que ele acusava opresidente Lula de comandar.
Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas para o Crivella,para o Lupi, para o Piciani, para a Clarissa Garotinho, para o RobertoJefferson, para a Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para aJandira... estou esquecendo alguém?
Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o desprezo maisprofundo de metade do eleitorado.
Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momentohistórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, comidéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio deJaneiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeçãopela singularidade da sua administração.
Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significanada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado dacoisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitorese da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seriaobrigado a prestar atenção.
Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente nulidade, quatro anosem que o recado das urnas será interpretado, pela corja que domina esta infelizcidade, como um retumbante "Liberou geral!"
Nojo, nojo, nojo.