terça-feira, 31 de março de 2009

A Menina na casa ao lado

A MENINA NA CASA DO LADO




Por dez dias ele observou
Por dez dias ele imaginou
Seu toque, seus cabelos, sua voz

Sem nunca saber, ele divagou
Sem nunca ouvir, ele sentia
Sem nunca viver, ele vivia

Como se aproximar, como conhecê-la?
Como parecer legal o suficiente?
Ao menos um pouco inteligente?
Como furar esse bloqueio?
Como iniciar essa amizade?

E ao tentar e fracassar
Das suas divagações sofreu a saudade

Não era pra ser poesia

Agora que eu voltei....

Não era pra ser poesia

Não era pra ser poesia
Mas prosa não seria
Se fosse falado seria errado
Se fosse filmado seria deslocado

Se palavras realmente expressassem
Se não diminuíssem ou enganassem
Eu poderia dizer o que sinto
E ter a certeza de que não minto

O tipo de beleza que toca o coração
O tipo de beleza que induz à paixão
Idealizada pelo medo de me aproximar
Mistificada pelo temor de me decepcionar

Não era pra ser poesia
Era pra ser uma homenagem, ode ao amor
Não era pra ser Poesia
Era pra ser uma expressão do meu temor

sábado, 28 de março de 2009

Corre Selvagem...

Depois de algum tempo sem postar, resolvi voltar ao blog com esta poesia que eu escrevi na sala de aula, naqueles momentos horrorosos em que a única coisa a se fazer é prestar atenção ao professor...

Corre Selvagem

Corre, Selvagem, foge de seu temor
Pois o que vem das águas lhe causa tamanho terror

Foge, Selvagem, acha seu destino
Na alm'a pureza do coração de um menino

Verde que voa, mata que respira
Rio ruidoso, alma aguerrida

Corre selvagem, teu tempo acabou
Tua terra sagrada o outro dominou
Leva contigo o que a ti importar
Pois a esta terra jamais voltará

Lágrimas brancas, sal da tristeza
Tão belo já foi, hoje não há beleza

Tua história de vida já foi esquecida
Teu conto choroso, tua terra roubada, tua alma aguerrida

terça-feira, 24 de março de 2009

Meu Álcool É Dinheiro

Aconteceu na madrugada desse último domingo (22 de março).
Tem uma boate aqui no condomínio onde moro, e toda madrugada tem "festa".
Acordei com os berros dela, e quando fui à varanda, vi o cara sendo preso e ela sendo carregada por um outro homem, inconsciente.
Não sei se foi só espancamento, ou se ele tentou estuprá-la.
Aí está:


Meu Álcool É Dinheiro


Era forte
Mas as coisas vieram
Agora está fraco
Mas não quer se entregar
Quer insistir na força
Não vai se entregar


Louco e fechado
É de tirar o chapéu
Há insetos sobre seus pés
Sobre sua cabeça
Louvando-o


Sorria
"Eu te amo muito, você tem crédito"
"Aperte minha mão"
Somos amigos...


Poço de embriaguez e ilusão
Ela queria dinheiro, mas o
Trocou por um cara mais fácil


Perda do controle
Ele bateu naquela mulher
Naquela piranha oferecida
Violência
Ele foi preso, covarde
Ele pagou e foi solto
Ela está sozinha, interna.


É a ressaca
Passos pesados
Irregulares
Um novo dia
Com restos
E fragmentos.





*O dinheiro vale tudo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ihul

Ver esse blog animado é muito bom, pessoal.
melhor ainda com as 3 últimas atualizações da nossa cara MOON
Srta. Arya também está escrevendo muito!
Vou postar mais um poema meu



Embriaguez.

 

            Embriagado em meu próprio seio

Despeço o ígneo arrepio denso

Dispo a pele bordada em fios tensos

            Enquanto a mim mesmo sustento e esteio

            - Findo é o corte cicatrizando o ventre

 

            Embriagado em meu próprio seio

Desvirtuei-me de um bafo quente

Desiludi-me de tal barro ardente

            E interrompi-me em meu próprio meio

            - o ápice do meu centro em mim mesmo

 

            Desembreaguei-me de apenas meu seio

E olhei-te e ao olhar-te só desfiz-me

Como ao escorrer o leite denso e firme

            A desbotar do meu corpo os arreios

            - A desbotar dos meus quadros coroas

 

            E ao mirar-te em qualquer encanto

Meus olhos cegam e meu peito se esboroa

E os nós dos dedos se desabotoam

            Que ao notar-te já desfaço em prantos

            - tamanha és tu, pedra do meu ser

 

            Atormentado por minha própria corte

Abandonei o cerne de mim mesmo

E deixei-me viver a toa e a esmo

            Para ter em tua vida a minha sorte

            - Para ter em teu tormento o meu sossego

 

            Pois és tranqüila em tradução celeste

És lâmpada que se acende e se perpetua

És o pudor de uma deusa nua

            És feita da ternura com que vieste

            - e tendo-te, terei em ti o paraíso

 

            Pois és da fala o mais certo som

Que irradia em luz o que te ouço

E que se forma em pus no meu pescoço

            Por encantar-me em cada nota e tom

            - És signo de dúvida, mas de mestria

 

            Pois és da existência o essencial

Que alumia em tons pastéis a aurora

E que se permanece em minhas horas

            E jaze como sombra em meu umbral

            - como uma sombra branca e radiante

 

 

 

            Pois eis que te recordo a cada instante

E que sua pele toca em meu corpo

Como uma seta que almeja o escopo

            E deixa a mão segura em um instante

            - Eis eu, o alvo, eis tu, a flecha

 

            E mesmo que me morra – agora e aqui

Embaraçado – pois teu nome alteio

Sei eu que morrerei sereno e cheio

            Pois morrerei embriagado em ti

            - pois morrerei eterno em teu seio

 

 

 

LUA

A Lua tem suas razões para não descer ao jardim
Talvez tenha visto sua lábia tão doce
Que o meu paladar enganou.
Talvez tenha ouvido as promessas de falsos poetas
Ou juras perdidas pelo imundo chão de estrelas.
Ó Lua, és sábia em assistir ao espetáculo de cima
Gargalhando a cada nova ilusão que inspiraste
Observando os beijos efêmeros que a noite revela
E quando cansar de testemunhar a hipocrisia humana
Deixe que a névoa da escuridão feche teus olhos!
QUEDA DE ÍCARO

Prosseguir com sonhos de Ícaro
logo verei o céu pelas asas do amor
e se o sol da ilusão derretê-las
carregarei ainda o derradeiro sorriso

Morrer aos teus pés, pelo sonho alado
sem perceber a inglória de não viver
pois os sonhos, ao contrário das ilusões,
alimentam o espírito tépido do amor.

Prosseguirei, nos ventos que me conduzem,
na altivez que me cega e me matará
e então, quando minhas asas derreterem,
poderei me libertar pelo etéreo celeste.

Cair, inevitável destino de quem quis ter asas
certeza e alívio das amarras incertas
e mesmo caindo, cego pelo mar que me aceita,
verei a tua imagem elevando-te em mim.

ANJO

Anjo...Esperarei a vida inteira pelo sopro de tuas asas...

Caminharei por trevas a queimar meus olhos,

Viajarei por tornados insanos a vasculhar minha consciência,

Mergulharei no lodo sombrio do abissal,

Despencarei do cume de minhas angústias noturnas,

Derramarei minhas lágrimas para regar meus pesadelos,

Enfrentarei a morte com mãos e coração vazios,

Degustarei dos fracassos que a vida me trouxer,

Passarei pelo frio da solidão nas noites de inverno,

Enfraquecerei com as noites tórridas do verão,

Beberei do vinho dos poetas mórbidos,

Libertarei meus demônios interiores ao entardecer,

Abdicarei do idílio dos beijos voluptuosos da ilusão,

Mas nem por um segundo deixarei de te amar...

terça-feira, 17 de março de 2009

Um brinde

As realizações, não de coisas concretas, mas algo mais profundo que isso. Quando você finalmente vê tudo como realmente é. E sabe do que mais? No final sente é falta de antes, de como costumava ser. De antes, pois sabia que não era para acontecer. Era bem mais simples assim.

Incoerência

Um oceano de Mágoas,

A busca por uma palavra perdida.
A solidão estampada,
Na dupla face da ferida.

A represa partindo;
As defesas, aos poucos,
ruindo.

O guardado,
já não mais secreto.
Partindo, tudo o que
mais tinha de concreto.

O que lhe era mais sagrado,
rompendo, esvaindo-se no meio da imensidão
Todos aqueles fingindo,
cegando-se diante de tanta contradição.

Jamais, pois encontrar-se-á uma razão;
Todo aquele fingimento,
Toda aquela dissimulação.

A represa partindo;
As defesas, aos poucos,
ruindo.

O que à de ser aquela incoerência,
O porquê de tanta discórdia,
Tudo, à falta de inocência.

Doideira

Poesia quentinha, acabou de sair do forno.





Vícios e Viagens


Eu Fui.


EU PRECISO DE UMA COISA QUE ME FAÇA PRECISAR
DE MAIS
EU QUERO EXAGEROS POSSÍVEIS DE SUPORTAR
MENTIRAS E VERDADES QUE NÃO IRÃO SE REVELAR

Você pode vir quando quiser
Você pode voltar quando partir
Onde foi?
Onde está?
As ruínas do passado ruíram para ontem
E agora EU SORRIO vivenciando o AMANHÃ
Por causa de ONTEM

Sou o AMANHÃ
Eu venho da terra e vou para o AR
Com você eu quero Ficar

Venho pelas ondas de um rádio alto
Ofereço mais truques para os
VELHOS MAGOS
QUE EM NOSSA HISTÓRIA NÃO MORRERAM.


Eu voltei.




M.H.

sábado, 14 de março de 2009

Cores

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/marciohendrik

Olha e ouve o lugar...

...Onde quer que o senhor esteja.

Adoro essas fontes exóticas.



Ruídos do Jardim

Traga o dia para mim de novo
Sacie minha sede, mate minha fome
Nunca se esqueça da sombra atrás de você

O Sol vai descer e subir novamente
De cabeça para baixo
Diminua os dias para se viver melhor
Jogue os problemas para fora de seu redor

Feche as portas para o mundo de fora
Não fale nada e concentre-se
Ouça o pequeno som que circula sua casa
Ouça a imensidão do silêncio
Daquelas montanhas, lá longe
Na frente do horizonte

Prenda novamente o coração partido
Feche o buraco formado
Abrindo outro e aumentando o fogo
Faça o que é certo
Quebre as correntes, mas não se liberte
Flutue diante um mundo sem memórias.


*******************************************************************


(Bicha)



Sol e Chuva

O Sol bate forte em meu rosto
A minha visão é de ouro flamejante
Onde estão as respostas daquilo que sempre esperei?

Ele tem um amor
Cravado no peito
Nem tudo que lhe falta é só para sonhar
A resposta virá no melhor momento:

No momento em que a maré abaixar,
No momento em que a calmaria pressentir a tempestade
E o silêncio nos levar ao grito
De glória, de vitória
De conquista

De Futuro,
De Felicidade.
É tudo o que quero.

A Chuva já passou
Aprendi que todos tomam flechadas
E que todos dão.
Se a guerra já passou, não há porque olhar para a destruição.
Agora é a hora

Agora é a hora,
De se construir e se levantar.







--------------Márcio Hendrik--------------------------------

quarta-feira, 11 de março de 2009

Animação

Uma felicidade enorme me alcança quando vejo esse blog tão "postado"
adoro os textos de voces. 

vou postar mais um quase-recente agora.





Discurso

Desculpa se não sei as mãos em ti

Se basta amarrar as minhas às tuas

E uma paralisia estatiza meu corpo

E sinto a aridez de pedras nuas

Cortas minhas costas e interromper meus atos

Desculpa se o querer tem desses hiatos

E se o desejo é depois e não agora

E vê como eu te deixo ir embora

Mas não sem muito pesar, muita tristeza

E essa é toda minha natureza

Já passa de cautela, é mais cruel

E quase não agüento os meus olhos

A acompanhar-te pelo caminho adentro

Desculpa se te beijo muito lento

É que me dá um lânguido cansaço

E os pés já não aguentam tão pesados

E as mãos então se prendem braços, laços

E enfim te largam autocomiserados

Desculpa se aquém me permaneço

É que o aquém já me é suficiente

Quando nos olhamos e enrubesço

Quando és tão segura e insipiente

Que não me faz lembrar ninguém, eu te prometo

Desculpa se pergunto friamente

Mas há uma esquírola a perfurar meu peito

Que me faz revolver-me no meu leito

E acordar demais e bruscamente

Mesmo com toda história, toda hora,

Um rastro no meu corpo embolora

Ao vir a minha mente um talvez

Pergunto então se não sou teu capricho

Se não sou tua nuance mais profunda

Se sou só um brinquedo, ou teu sorriso

É de fato a verdade a me aprazer

Dispo-me agora do meu corpo frágil

E todas frases feitas, meus adágios

Dispo-me agora da minha armadura séssil

Tão presa em meu mundo emetizado,

Privado dos amálgamas que te formam

Serrados por dois olhos amancebados

E por um esqueleto podre e fóssil

Desculpa se me posso ser deficiente

Ou tão precipitado hora ou outra

É que meu corpo treme em pensar-te

E que meus ouvidos sentem-te de repente

É que és presença avassaladora

Como uma sombra hostil devastadora

Que me desola o coração e a mente

E murcha em minha boca a linda rosa

E me ebaniza a aurora, flor do dia

E tranca-me a garganta e os dentes,

Pois não encontra cor na minha prosa

E nem palavras na minha poesia 

Poeta de Araque!

Eu não sei escrever poesias então vou postar a única que eu soube.

Acidez

A vida que foi dada acaba por obrigar-me a tirá-la de meu corpo.
Eu busco a esperança, experimentando uma nova ilusão.
E estou viciado nela.
Este é o seu desejo:

Condenar-me à vida Eterna,
E ao seu lado, permanecerei atado,
Acorrentado, Para sempre.
Não podemos chegar ao topo,
Pois iremos morrer.

A Velha juventude será eterna,
Porém nossa Vida apodrecerá.
Com o passar dos tempos.
O que você não dá importância é o que você não deveria ser.
E você tenta se esconder do passado “errado”,
Apagando erros com mais erros.

Você irá murchar.

Daí você me encontrará,
Soltando o último sopro de vida,
Você e eu,
Experimentando uma nova ilusão.
Em busca de esperança?



Em breve, outras que eu soube.

terça-feira, 10 de março de 2009

Comemorar

Sério, acho que eu tenho algum problema com blogs! Eu nunca lembro de postar aqui. Enfim. Esse aqui eu já escrevi faz algum tempo. E vou postar duas, só pra "comemorar"

Ao lado

Ter-te ao meu lado,
Sentir-me em teus braços;
Seguir o teu passo,
Impedir o teu pranto

Teu encanto tecido,
Varrido meu mundo
Amor cometido
Jamais é tanto.
É tudo.

Teus lábios nos meus,
Meus braços nos teus,
Teus laços nos meus.
Abraços.

O inteiro partido
O dueto marcado
A melodia desfeita
No instante passado

E sentir-te ao meu lado
E ter-te em meus braços
Impedir o teu passo
E seguir o teu pranto
Me encanto.

Agradeço João Lucas, não me esqueci de você :)



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Irrevogável

Tão cálido o carinho
De um tão simples sorriso
Que agora me deixas,
Agora se vai.

Os olhos inquietos
Varrem as faces.
Tecem as verdades, testam
As lembranças

Tantas, mais tantas
Confundem, distorcem
Acabam solenes, distantes.

Escassas as vitórias
Posteriores, diante
De um tão triste fim.

-nada muda nada se vai, tudo se transforma.


segunda-feira, 9 de março de 2009

Mórbido, Funesto Mórbido (de volta o auterego)

De sangue estampa agora ponho em verso

A hematose, o hematoma, a mancha

Que em minha pele ainda se desmancha

Que mesmo deus apaga no universo

 

E o corpo roto, estirado e morto

Se põe ensolarado o próprio gosto,

E a poça, embebida em dó o rosto,

Vertido em cinzas, em breu absorto

 

Escarra o hemofluido, ralo, cego

E há um prazer a elevar meu ego

Como a latejar no meu peito o corte

 

E mesmo mal, de fogo desalento

E o vil hálito a espalhar no vento

Sobra um soluço da sua calma morte 

quinta-feira, 5 de março de 2009

Considerações sobre a morte

Antes de começar a falar o que quero é preciso dizer que acabei de rever um filme chamado “Encontro Marcado”, que, aliás, recomendo, e meu rosto ainda repuxa devido às lágrimas secas. Como todos os meus textos, gosto de escrever ainda no momento da emoção, acho que as palavras e sentimentos saem com mais facilidade para o papel. Mas deixe-me ir ao ponto que me trouxe aqui. Esse filme me fez considerar algumas coisas a respeito da morte e a principal foi uma pergunta. Que atitudes eu teria face à morte iminente? O texto que se segue fala sobre isso.

Última vontade

Diante da morte iminente
Ao ansiar por serenidade
Bastar-me-ia agradecer

Agradeceria às tias da escola
Ao me destituírem a divindade
Investiram-me de humanidade

Agradeceria aos amigos de infância
Ao me aceitarem em suas vidas
Conferiram-me identidade

Agradeceria às paixões adolescentes
Ao serem eternas em sua duração
Revestiram-me de ternura

Agradeceria às desilusões
Ao revelarem o cenário mais desolador
Alimentaram-me a mais veemente esperança

Agradeceria à minha consorte
Ao se juntar a mim no caminho
Aferiu-me um norte

Agradeceria a meus filhos
Ao nascerem e sorrirem
Instituíram-me um sentido

Agradeceria a meus pais e irmão
Ao conjugarem minha biografia
Concederam-me a dádiva da vida

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mais um para animar esse blog.

Soneto incontido


Não hei de me atrever, a sua beleza

A transmutá-la toda em parcos versos,

Palavras aviltadas sem certeza

Que meus olhos descrevem submersos

 

Não há espaço vago na poesia

Para comportar do teu corpo o perfume

Que o cheiro em minha narina ainda ardia

Entorpecido e cego por seu lume

 

E mesmo a epopéia mais homérica

Ilustrada por tão lindas sirenas

Para a sua voz ainda é pouca

 

E até as curvas breves do seu nome

Não cabem em estrofes tão pequenas

E nem nos sons que vem da minha boca

terça-feira, 3 de março de 2009

UNICIDADE

Ah! Se eu pudesse te ver por dentro
E não mais me ater aos adornos
Não mais me perder em tormentos
Diante de teus físicos contornos.
Se pudesse, uma vez, adentrar
Tua alma, só para ver o que se passa
Nesse teu jeito de suspirar
Que não decifro e me arrasa...
Se pudesse penetrar seus secretos sonhos
E controlar teu modo de ser,
Entendendo teu olhar risonho
Que abarca o meu viver.
Se pudesse ser o plasma do te sangrar,
para saber das tuas chagas a cura
Para aplacar tuas agruras
Retomar-te em meus braços,
refazendo os passos
de todo o teu eu.
Se pudesse ser entre teus ossos o espaço
Vivendo intimamente tuas sensações;
Compreendendo teus traços...
Vou me embrenhando por tuas emoções
Se pudesse ser o teu pranto
Para sentir sua dor como minha,
para não mais ficar esperando...
Ser parte de tua vida, ainda que sozinha!

Combo

Bom, não posto nada há muito tempo, mas já que temos uma nova contribuidora (Moon) vou postar hoje 2 poemas. Espero que a chegada da nova escritora anime mais as coisas por aqui. Sinto falta do humor ácido do Sr. Márcio, do amor terno da Arya e das loucuras eventuais do nosso caro Ulisses.
enfim, postem. vou postar

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Desejo

Desejo o beijo, o ego, o desejo

Assim me vejo, restos de espera

É brando e cego, resta-me o ensejo

Beijo o desejo, e nós, os nós dos dedos

 

Eu apodreço de não realizá-los

Sem risco desconstruo o que sou

De sonhos cresço, de não tê-los calo

Não deixo que se acenda o frágil fogo

 

Arisco ou fraco, não me arrisco à causa

Sobra o desejo, a emoção e a pausa

De quando eu vejo meu amor assim

E o tempo engole a dura derrocada

 

Mas não me lanço no sem-fim abismo

E meu amor também não vai por mim

E quando o seu ar mui perto sinto

Controlo o peito a externar minha ânsia

 

Pois eu não sou mais ser na burra infância

Nem eu sou inseto que obedece o instinto

Não vou voar para o sol e encontrar lâmpada

E nem morrer na luz da minha ignorância 


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Anoxia

Desfaço minha mão no meu corpo

O meu leque de cartas marcadas

Pergunto se não és parte do caminho,

Mas não, pois já passas de toda estrada

E a seta óptica a se me observar diante do espelho

Meus calos, meus olhos, meus lábios vermelhos

Por dentro vermelhos, irrigados por veias e fluídos

Do não-meu sangue. Nosso sangue.

Enrubesço eu próprio. E réstias de luz forte a me queimar

E tua silhueta se forma por trás dos meus olhos

Da cor negra

Negra que é a cor do medo que se forma em mim com tua sombra

E falta melhor definição para medo. Que tu

E melhor definição para ti. É medo.

 

Desminto meus pesadelos e pecados

Eu finco minhas mentiras no meu corpo, em castigo,

Facas cujas pontas eu sinto, dentro de nós

E a dúvida afiada está comigo.

A incógnita desajeitada do desejo

Sem beijo, sem toque.

O medo do medo da morte.

E a morte é tua falta, é não ter ar teu

Teus pulmões, não os vejo, mas o sinto,

Em um ritmo quente, rápido, nervoso

Não mais que os meus pulmões

Que me engasgam e não consigo falar

Porque meus dentes trincam, minha boca sela, minhas narinas pifam

O meu corpo pára. Não é cedo.

 

Desato os nós que fazem os meus músculos rijos

Os nós da minha garganta e do meu peito

Eu choro um choro interno e castrado

Eu rio um riso frouxo e sem jeito

Não tem jeito. Meu corpo treme só com tua presença

Meu corpo teme não ser bom pra ti

Minha mente se ausenta, se implode

É a morte, não é cedo, é o medo em si

Meus dedos já não se bastam sozinhos

Minha pele já não busca teus carinhos

Mas busca tua palavra e tua voz

Pois se até a pele que não tem ouvido

Sua boca faz sentir os calafrios

Os mesmos calafrios do meu corpo

 

E fervo em uma febre desalmada

Contorço o meu corpo todo em vão

Não expulso uma palavra da minha boca,

Não encontro os meus pés tocando o chão

Prolixo, devaneio mil palavras

Extensos versos de cem poesias 

Mas não há poesia que se baste

E nem há poeta que se cale

Diante da palavra que não vem

Que todas as bocas em uníssono cantam

Que é o ídolo mor de cada autor

E todas as mulheres dizem amém

Pergunto se não és parte do caminho,

Mas não, pois já é mais que meu amor.