terça-feira, 26 de maio de 2009

A Dama de Branco - Parte 2

Parte II - "Ninguém pode fugir ao amor e à morte". / Públio Siro

A casa de Felipe Carvalho era relativamente confortável, mesmo com a terrível lembrança do que fizera antes.
Um dia, saindo para procurar um novo trabalho, travou mais um dos diálogos rotineiros.
- A morte?
-É - ela respondia pela décima vez - Quase isso.
- Como quase? - perguntava Felipe novamente, mesmo achando que não conseguiria resposta - Como alguém pode ser quase a morte?
- Tá, eu respondo. - disse ela, surpreendendo Felipe - Funciona assim: Nós somos inúmeros. Cada um cuida de um caso ao mesmo tempo. Normalmente não nos apressamos com ninguém, só levando a pessoa para o outro lado.
- Como é o outro lado?
- Já te disse, eu não posso dizer isso.
- O que te impede?
- Tudo. Mesmo que eu quisesse, você não entenderia. Sua espécie não foi feita pra entender isso. Continuando, o seu caso foi diferente. Sabe, eles sempre condenam quem tenta o suicídio, que estes não tem mais jeito, e essas coisas.
- E não é verdade?
- Você se considerava sem jeito?
- Sim.
- Mas eu não. Eu tinha que provar que o suicida pode voltar a recuperar a alegria de viver...
- Que alegria? Você já viveu?
- Não...
- Então como sabe? Eu estava na merda, sem nada nem ninguém, sem nada eu continuo, sem ninguém eu... não sei.
- Não sabe o quê?
- Se eu posso considerar você alguém.
- Nem eu.
- Mas... você ainda não provou nada.
- Ainda não. Mas eu te salvei. Você tem uma nova chance. Eu não acho que você vai desperdiçar essa.
- Pode ser...

Era extremamente rica, mas isso não a fazia feliz. Loira, olhos azuis, a princesinha. Mas não era feliz. Foi assim que resolveu mudar de cidade, de vida, tentar se virar, ver se aqui seria bom.
Aline resolvera, ainda com o dinheiro dos pais, alugar um pequeno apartamento, em um prédio que, ela escutara, um homem tinha tentado se matar pouco tempo atrás.
Conseguira um emprego em uma loja, totalmente independente dos pais e de qualquer outro.
Logo depois da mudança, teve que se acostumar com uma rotina diferente da sua cotidiana, mas nada que, pelo menos àquele ponto, a afetasse.
Mas foi em um dia comum, subindo o elevador, que ela viu um homem estranho, conversando sozinho na porta do elevador, dizendo coisas como "você ainda não provou nada" e "eu estava na merda".
Admitiu, para si mesma, sua curiosidade.
Queria conversar com aquele homem. E ali estava a desculpa perfeita. Acabara seu açúcar.

Felipe levou um susto com a campainha.
Assim que abriu a porta, uma bela mulher ali estava.
- Oi - disse ela - é que meu açúcar acabou, será que você teria?
- Tenho sim. Quer entrar enquanto eu pego?
Ela entrou. E enquanto ele pegava o açúcar, ela observava sua casa. Algo nele a atraía. Podia ser o estilo, meio dark, mas era algo a mais. Um certo ar de superioridade, de quem sabe mais que os outros.
Mal sabia ela que ele realmente sabia.

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